SOBRE A TERRA E SOBRE O MAR: Travessia Brugge

LF é a designação utilizada na Holanda para identificar as ciclovias nacionais de longo curso (Landelijke Fietsroutes). O plano nacional holandês contempla 20 destas infra-estruturas, algumas delas com ligações de continuidade aos países vizinhos, Bélgica e Alemanha.

No verão de 2001, numa curta estadia no norte da Holanda, fiquei rendido à cultura ciclista que se vive no país e completamente contagiado pelas viagens em bicicleta. Ficou o registo e o desejo de voltar! Este ano finalmente proporcionou-se…

A escolha do trajecto a realizar não foi nada fácil, mas durante o processo de recolha de informação sobre as diversas opções possíveis, o meu entusiasmo recaiu, desde logo, no trajecto da ciclovia do mar do norte, LF1 Noordzee Route, que mereceu naturalmente uma maior atenção.

Com uma extensão de 294 km, só em território holandês, esta ciclovia permite a ligação entre a cidade de Den Hélder na região Noord Holland e a povoação de Sluis a Sul, junto à fronteira com a Bélgica.
Tal como já referi, algumas desta vias não se cingem apenas ao território da Holanda, tendo ligações a outros países. O caso da LF1 é exemplo disso mesmo, pois é possível pedalar nesta via em território Belga e também em território Francês, até à cidade de Boulogne sur Mer, perfazendo um total de 430 km.

Aproximava-se o grande dia, e ponderadas as questões, decidi que fazia mais sentido, efectuar a travessia de Sul para Norte, começando a pedalar na monumental cidade de Brugge, a Veneza Belga, património mundial.

Para esta viagem, não parti sozinho!
Um grande amigo, companheiro de muitas outras viagens, costuma dizer nestas ocasiões “…nenhuma viagem é longa demais quando um amigo nos acompanha…”.
Desafiei 3 camaradas para se juntarem à aventura, tendo noção de que para todos eles seria uma estreia absoluta a viajar em bicicleta. Acompanhei a sua motivação, o frenesim das montagens, as preocupações naturais dos seus preparativos e colaborei nas últimas afinações.

Em todas as viagens, surgem sempre situações caricatas, mas vive-la ainda sem ter começado a pedalar, nunca me tinha acontecido. Esta foi ridícula, mesmo…

No dia anterior à nossa partida, dirigimo-nos à estação do comboio para comprar os bilhetes para a viagem de comboio até à Bélgica. Qual não é o nosso espanto quando percebemos que o quiosque de venda de bilhetes não é propriedade da companhia de comboios e por esse motivo, não poderia vender bilhetes para viagens internacionais. A funcionária remeteu-nos para a máquina automática colocada no exterior, para efectuarmos a aquisição. Seleccionamos as opções, tudo ok, mas na hora de pagar a máquina não aceitava qualquer tipo de cartão VISA.

Ah pois é, fica o aviso, na Holanda comprar um bilhete de comboio pode tornar-se uma dor de cabeça, porque as maquinas apenas aceitam cartões Maestro, made by Dutch Banks e Chipnik. E quem é que usa esses cartões, perguntam vocês? Apenas os Holandeses…claro! :-(

Solução alternativa: pagar com moedas! Ah ok, 146 euros em moedas. Diversão garantida por umas horas, tipo slot machine games, na presença dos seguranças da estação. Enfim, um filme… unbelievable!

1º Dia

Sexta-feira, após o almoço viajamos até à Central Station de Amesterdão onde apanhamos a ligação do comboio internacional com destino a Bruxelas Central. Na realidade não era este o nosso destino final, mas sim Antuérpia Central, onde fizemos a ligação à cidade de Brugge.
Todos os comboios reservam compartimentos específicos para o transporte das bicicletas e foi fácil arrumarmos as quatro bicicletas.

Após 6 horas de viajem, chegamos a Brugge. Com o auxílio do GPS foi fácil chegar à pousada de juventude.
Instalamo-nos e saímos de novo para um pequeno passeio no centro histórico da cidade. As pequenas vielas, a iluminação característica, os estreitos e românticos canais, os imponentes monumentos, as fábricas de chocolate, fazem desta cidade um encanto de qualquer transeunte que disponha de uns dias para a desfrutar. Antes do jantar ainda fomos reconhecer a via de saída da cidade, pela LF1. Terminamos a noite na Pizzaria Carlitos, na Hoogstraat 21.